segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

De inquietações


Não costumo passar minhas noites de domingo assistindo ao Fantástico, mas ontem isso aconteceu. E uma reportagem em especial me assustou muito e me deixou extremamente preocupada e reflexiva: o lixo nos oceanos. Fiquei tentando entender como poderemos ser menos cancerígenos ao nosso planeta. Como? E me lembrei de um cara, de um homem simples e, ao mesmo tempo, exageradamente importante para a nossa História. Um intelectual como poucos de nosso tempo. Um cara respeitado e honoris causa em nada mais nada menos que 28 universidades entre as maiores do mundo. O revolucionário Paulo Freire. E pensei: por que não (re)ler Educação como prática da liberdade? Essa foi a primeira obra de Freire e nela o autor define o homem como um ser inacabado e defende uma educação realmente transformadora, já que, para ele, o homem é sujeito e não objeto da Educação. As concepções de Freire sobre o ser humano [SEMPRE] lançam luzes para nós, professores, ou para gente inquieta como eu com a situação socioambiental em que nos encontramos.

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Se nossa sociedade caminha para uma piora quantitativa da qualidade de vida e para um consumo cada vez mais exacerbado, não temos saída?! A recente Conferência de Copenhague foi um passo decisivo para entendermos que apenas fazendo a nossa parte não basta. Se os países mais ricos e, consequentemente, mais industrializados não fizerem a parte deles, e se todos os governos não unirem esforços para a criação de leis mais severas para agentes poluídores, não encontraremos caminho menos fracassado em questões socioambientais. Se, por exemplo, não forem altamente taxados aqueles veículos que poluem mais por serem mais antigos, os governos estarão colaborando para mais poluentes no ar. Se não forem rigidamente punidas as indústrias de papel que não reciclam ou que não promovem reflorestamento... Se os supermercados não forem punidos com multas altas por utilizarem sacolas plásticas... Se os órgãos públicos não forem obrigados a utilizar papel reciclado, luz solar direta e coleta seletiva de lixo... Se as prefeituras não multarem pessoas que jogam lixo em local indevido... Se as indústrias de pneus... Se... São tantos ses!

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Mas eu acredito em Educação como prática da liberdade. SIM! Por isso fui reler Paulo Freire. Obviamente que a década de 60 em que Freire instituiu seu projeto de educação de jovens e adultos era muito diferente dessa primeira década de nosso século XXI. Entretanto, os fundamentos freireanos para se enxergar o humano como um ser interventor e transformador ainda devem vigorar. Toda a sociedade deve estar envolvida nesse projeto educacional - governos, inclusive. Porque uma grande parte da responsabilidade de todo esse desastre em que nos encontramos é um trinômio simples e cancerígeno que se encontra em constante metástase: neoliberalismo + > necessidade de ter + < valorização do ser = consumismo. Esse trinômio pode ser modificado se, em primeiro lugar, o Estado passar a intervir mais nas sociedades por meio de uma Educação realmente libertadora, de uma Educação que estimule a consciência que habita cada um de nós, de uma Educação menos tecnicista, menos convencional e mais dialógica, de uma Educação que modifique comportamentos, que liberte e, em consequência, começarmos a valorizar o ser em detrimento do ter . * Paulo Freire criou seu método para a realidade brasileira. Ele insistia em refletir sobre nossa condição histórico-cultural e salientava que essa nossa base reflete-se, e muito, em nós ainda hoje: o "aumento da riqueza não está somente relacionado com o desenvolvimento da democracia para alterar as condições sociais dos trabalhadores; na realidade, ela atinge também a forma de estrutura social, que deixa de ser representada como um alongado triângulo para transformar-se num losango com uma classe média sempre crescente. A renda nacional relaciona-se sempre com os valores políticos e o estilo de vida da classe dominante. Tanto mais pobre seja uma nação, e mais baixos os padrões de vida das classes inferiores, maior será a pressão dos estratos superiores sobre elas (...) Na medida, porém, em que as classes populares emergem, descobrem e sentem esta visualização que delas fazem as elites, inclinam-se, sempre que podem, a respostas autenticamente agressivas" (Freire, 2003, p.94). * Fica claro, assim, nesses pensamentos de Freire, que o aumento da desigualdade socioeconômica é um problema grave e responsável, em grande medida, por várias das crises que hoje se instauram no planeta. Como minimizar esse problema? Por meio de uma verdadeira democracia que vem acompanhada de um processo de Educação que visa a compreensão da realidade para transformá-la.

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Imagem: internet
Aqui está a reportagem do Fantástico.
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003. (disponível no 4shared.com para download)

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

E aí educador?!




A educação ainda é o caminho para a diminuição da desigualdade social que assola não só o nosso país, mas a maioria dos países subdesenvolvidos. Países subdesenvolvidos, pois povo educado, “alfabetizado”, estuda, analisa, reflete e busca soluções para os seus problemas, sejam eles políticos, sociais ou financeiros. A educação desmistifica, fecha as portas da ignorância, não a “educação letrada”, mas a de leitura, reflexão, pesquisa, projetos. É difícil conscientizar as camadas privilegiadas da sociedade da importância e da necessidade de investimentos consideráveis na educação, do respeito ao educador e do reconhecimento do seu trabalho. Vi uma reportagem que dizia que todo médico no nosso país é chamado de doutor, um juiz é chamado de doutor, um advogado é chamado de doutor, mas que estes profissionais não são doutores pelo simples fato de terem terminado uma faculdade, um doutorado requer muito mais. O tratamento e a referência a estas pessoas, com este título de doutor está enraizado nas nossas vidas e vem desde a nossa colonização. Temos excelentes doutores na área da educação, mas não são chamados de doutores por onde andam pelo simples fato de serem profissionais da educação! Falta respeito, reconhecimento e conhecimento por parte da população acerca disto e nós, professores, responsáveis pela educação, também não lutamos por melhoria e reconhecimento. Hoje se prega o crescimento do índice do IDEB, pois isto nos elevará a categoria de nação escolarizada, escolarizada mesmo, pois da forma como estamos tratando a educação e "fazendo educação", faremos com que o índice do analfabetismo funcional se eleve também!
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Reflexão acerca do texto de Marcos Bagno PAÍS EMERGENTE, EDUCAÇÃO SUBMERSA...- Abril de 2009


Texto originalmente publicado em 04.07.09 no blog Gestar.Cris, da formadora Cristiane da Cruz, de Campo Formoso - BA.