segunda-feira, 15 de março de 2010

Moinhos de vento



Voltando no tempo sobre a minha vida de leitora, definitivamente não foi na escola que descobri essa paixão. As letras já fazem parte da minha vida há muito tempo, desde quando eu ia ver meu pai trabalhar. Não, ele não é professor, nem tão pouco escritor. É ferreiro, profissão milenar que fabrica peças de metal, principalmente ferros com letras para marcar gado, manualmente em um processo maravilhoso de desenho das letras no barro para fazer os moldes. Era ali que eu me encantava quando saía da escola e ia correndo para lá. Nunca vi letras tão lindas brotadas da mão de um homem que só estudou até a 4ª série.
A outra parte da família é toda ligada à área de linguagem e por isso tive contato muito cedo com livros. Minha mãe é uma devoradora de livros e o que nunca faltou na casa em que eu cresci foi uma estante cheinha deles que era abastecida a cada mês com a visita de Pedro. Ah! Como ele me fazia feliz. Como naquela época não existiam muitas livrarias, até hoje em minha cidade não tem (é meu sonho de consumo ter uma), o Pedro vinha de Minas vender livros pelas escolas aqui de Potiraguá e como minha mãe trabalhava em uma delas, quando ele chegava mandava me chamar e eu amava aquilo tudo: caixas de livros, coleções, livros infantis...
Meu primeiro "O Pequeno Príncipe" era mineiro. Viajou de Belo Horizonte até aqui só para me ver. Livro de criança que nada, até hoje é a minha releitura preferida.
Sempre gostei de coleções, ficava maravilhada com todos aqueles livros com capas iguais. Uma vez, em meados de 88, implorei minha mãe que me desse a coleção de Eça de Queiroz (confesso que não consegui ler todos até hoje), só porque eram todos encadernados de verde e branco, muito lindos, os tenho até hoje na minha estante que por sinal é a mesma que foi de minha mãe.
E assim se passaram muitas coleções na minha vida, de Sheldon aos imortais da literatura com os clássicos que também são minha paixão: Germinal, Os Três Mosqueteiros, As Viagens de Gulliver, Dom Casmurro, O Morro dos Ventos Uivantes e tantos outros.
Mas leio também literatura barata, não tenho vergonha de dizer. Nós temos que ler o que gostamos, o que nos dá prazer. Já tive fases de "Sabrina", de paixão por Paulo Coelho, enquanto não lia todos não sossegava, sempre gostei mais de literatura americana do que brasileira, não consigo ler Jorge Amado e acho que ninguém deve exigir que gostemos de algum autor ou livro só por causa das convenções.
Livro é como uma relação que você tem com outra pessoa. Você pode ser amigo, gostar um pouco, gostar muito, detestar, não suportar, amar, apaixonar-se perdidamente e até fazer loucura por ele. Dom Quixote por exemplo é o meu amante incondicional, paixão que nunca vai passar, daquelas avassaladoras.
Quando o livro "A menina que roubava livros" foi lançado tive lembranças que me fizeram dar risada, porque eu sempre falava que a única coisa que eu era capaz de roubar era livros. E já o fiz uma vez, mas essa é outra história. A minha relação com os livros é assim, totalmente possessiva, adoro tê-los perto de mim, não gosto de emprestá-los, pois tenho medo que encontrem um lugar melhor e não voltem e odeio devolvê-los quando empresto de alguém.
Parece meio louco não é? É pessoal, quixotismo pega.
aqui.