segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O que realmente nos faz aprender?

Foto: internet



Pensando sobre a aprendizagem, que é o foco principal da educação formal (e acho que da vida!), sugiro a leitura de dois textos divulgados na internet, em sites diferentes, mas que tratam de Educação. Um se intitula Nota boa no Enem vai muito além do esforço pessoal. E eu acrescento a essa tese o fato de que não é só a nota boa um índice de que se aprendeu. Há outros fatores. Um deles é o relacionamento que o aluno tem com o professor, com a educação, com o conhecimento e com a escola. A respeito disso, pode-se ver a opinião de Edgard Piccoli, da MTV, numa entrevista ao blog Amigos do Educar.Vejo como uma iniciativa muito importante as pessoas da mídia demonstrarem interesse em discutir o tema e em se mobilizar em favor de um direito básico tão desrespeitado neste país - a Educação.



quinta-feira, 12 de novembro de 2009

MENSAGEM PARA VOCÊS

PASSEI AQUI SÓ PARA DIZER QUE ESTOU MORRENDO DE



BEIJOS!

Carol

Verdades e mitos sobre a educação

Imagem: internet

10/11/2009
Folha de São Paulo

Verdades e mitos sobre a educação

São Paulo, segunda-feira, 09 de novembro de 2009

SABER


VERDADE OU MENTIRA

1. SÓ PAGAR MELHOR O PROFESSOR JÁ MELHORA O APRENDIZADO


Pesquisas nacionais e internacionais indicam que não há relação entre o salário do professor e o aprendizado dos alunos no curto prazo, já que não há impacto imediato na maneira como o professor ensina. No entanto, no longo prazo, alguns especialistas em educação afirmam que isso pode tornar a carreira de professor mais atraente, estimulando os melhores alunos do ensino médio a seguirem essa profissão.


2. MELHORAR A INFRAESTRUTURA DA ESCOLA TEM IMPACTO POSITIVO NO DESEMPENHO DOS ALUNOS


Na avaliação de alunos da oitava série na Prova Brasil de 2007, de 14 CEUs avaliados, 9 tiveram nota menor que a média da rede municipal de São Paulo. Uma das hipóteses é que, sem ter professores preparados para ensinar melhor, dispor de facilidades como piscina, teatro e recursos tecnológicos avançados não traz avanços no aprendizado dos alunos.


3. A PROGRESSÃO CONTINUADA CONTRIBUI PARA PIORAR A QUALIDADE DO ENSINO


Nesse sistema, o aluno não está sujeito a repetência ao fim de cada série, mas ao fim de cada ciclo. Segundo pesquisa de Naércio Menezes Filho, os alunos das redes com progressão continuada têm desempenho muito parecido ao dos alunos de escolas com regime seriado. "Além disto, a evasão é muito maior no segundo caso (seriado)."


4. CURSOS DE RECICLAGEM PARA PROFESSORES AJUDAM A MELHORAR O ENSINO


Estudos feitos no Brasil e no exterior mostram que os professores que fizeram os chamados cursos de formação continuada não passaram a ensinar melhor. Isso porque eles são muito teóricos e influenciam pouco na melhoria do ensino em sala de aula. Mozart Neves, presidente do Todos pela Educação e professor da UFPE, ressalta que o mais indicado seria melhorar a formação dada nas universidades.


5. GASTAR MAIS COM EDUCAÇÃO É SUFICIENTE PARA AUMENTAR O APRENDIZADO DOS ALUNOS


De acordo com levantamento feito por Menezes Filho, municípios que gastam R$ 1.000 por aluno no ensino fundamental têm a mesma nota na Prova Brasil do que municípios que gastam R$ 3.000. O economista Gustavo

Ioschpe lembra ainda que, na maioria dos casos, aumentar os gastos com educação significa elevar os salários dos professores, que não é algo que dá resultados.


6. A ESCOLA NÃO PODE AJUDAR FILHOS DE FAMÍLIAS DESESTRUTURADAS


Para aprender, o aluno deve estar bem emocionalmente, mas isso não quer dizer que a escola deve se eximir de seu papel de educar, diz Magdalena Viggiani Jalbut, do Instituto Superior de Educação Vera Cruz. Além disso, mesmo no caso de uma família fora do padrão (quando mãe e pai não estão interessados na educação do filho), qualquer outro parente, até um primo, pode estimular a criança a aprender, segundo estudos feitos na França citados por Maria Letícia Nascimento, da Faculdade de Educação da USP.


7. SISTEMAS DE ENSINO APOSTILADOS TOLHEM A AUTONOMIA DO PROFESSOR


Estudos feitos por Paula Louzano, doutora em educação pela Universidade Harvard (EUA), mostram que municípios de SP que usam esses métodos estruturados (como os do COC e do Anglo, com apostilas) tiveram desempenho superior na Prova Brasil, na comparação com as demais redes municipais. Em entrevista com professores que usam o sistema, 84% disseram que o desempenho dos alunos melhorou e 36% que o material estimula o aprendizado.

TEXTO EXTRAÍDO DO SITE WWW.STELLABORTONI.COM.BR

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Por que 15 de outubro?

É comum, no mundo todo, existirem datas para se comemorar o dia do professor, do médico, do engenheiro, do enfermeiro, da secretária, do auditor tributário, etc. Mas de onde vêm essas datas? Que história e que ideologia estão por trás delas? No Brasil, as felicitações a mestres e mestras ocorrem no dia 15 de outubro. Por quê? Eu sou professora há 13 anos e somente agora me fiz essa pergunta. Como somos privilegiados e temos o google, descobri muitas e muitas versões da história das quais destaco duas: a da wiki e a de Daniele Moraes. Resumindo: tudo aconteceu por causa de uma santa, a Tereza de Ávila, padroeira dos professores, cuja data de consagração é 14/10 ou 15/10(?). Depois, a data virou decreto, lei e agora é tradição. O importante de conhecer a história é entender que desde sempre a profissão é ligada ao feminino e ao "sacerdócio". Insisto em dizer que professor não é mãe nem sacerdote, e que essa deveria ser uma profissão reconhecidamente importante. Os que a exercem devem ser éticos e competentes acima de qualquer coisa, pois lidam com pessoas e marcam as vidas delas de forma positiva ou negativa, a depender de sua atuação. Ser professor é, antes de mais nada, ser amante do querer saber, do querer aprender, do querer ensinar, do querer ajudar a encontrar o caminho. Muitos conseguem ir além e ensinar o caminho com sabedoria. E esses são raros, muito raros. Eu tive a sorte de encontrar alguém assim na minha vida - Marta Scherre. A ela o meu mais sincero agradecimento e minha grande admiração. Outros mestres que passaram pela minha vida acadêmica também me marcaram muito - Estanislau, Mércia, Sandra, Denize Elena, Denise Aragão, Rachel Dettoni, Josênia Antunes, Stella Bortoni, Cilene Magalhães, Anthony Naro, Cibele Brandão, Hermenegildo Bastos, Lígia Cadermatori, Tânia Serra, Rita de Cassi, Regina Dalcastagne, Hilda Lontra, Margarida Patriota, Bartho Troccoli, Denilson Lopes, Ludmila Gaudad - e os agradeço imensamente. Também gosto de saber de histórias de professores. E sei de cada história linda e emocionante de colegas dos cantos mais longínquos do Brasil! Para conhecer essas histórias, entre aqui, ou em Moqueca de textos, ou em Raízes maranhenses, ou em Língua do PI. Boa leitura.


FELIZ DIA DO PROFESSOR!


Foto: internet


Vídeo para reflexão
"DEVEMOS LUTAR PELO QUE ACREDITAMOS UMA VEZ QUE TENHAMOS CERTEZA ABSOLUTA DE QUE ESTAMOS CERTOS"

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Anedotinhas do Pasquim

Imagem: internet


De manhã, o pai bate na porta do quarto do filho:

– Acorda, meu filho. Acorda, que está na hora de você ir para o colégio.

Lá de dentro, estremunhado, o filho respondeu:


– Pai, eu hoje não vou ao colégio. E não vou por três razões: primeiro, porque eu estou morto de sono; segundo, porque eu detesto aquele colégio; terceiro, porque eu não aguento mais aqueles meninos.

E o pai respondeu lá fora:

– Você tem que ir. E tem que ir, por três razões: primeiro, porque você tem um dever a cumprir; segundo, porque você já tem 45 anos; terceiro, porque você é o diretor do colégio.

(Anedotinhas do Pasquim. Rio de Janeiro. Codecri, 1981)


Postei esse texto com a intenção de que reflitamos sobre as possibilidades de trabalho com esse gênero em classes de Ensino Fundamental, baseando-se em teorias de interação linguística. Minha intenção, também, é que vocês o utilizem para a análise crítica-reflexiva no seu respectivo blog/portifólio.
Bom trabalho!

Para ler mais anedotas do pasquim, entre aqui.
Saudades de todas e todos.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Revolução?

Confesso que fico temerosa do discurso aparentemente igualitário e inovador do MEC a respeito do Novo Ensino Médio, pois guarda nas entrelinhas a disseminação de uma cultura meritocrática. Acredito que o indíviduo tenha realmente um papel muito importante na construção de sua própria jornada profissional [e pessoal], porém é imprescindível que todos disponham dos mesmos meios para alcançar objetivos. E isso é o que o governo está se propondo a fazer? Apenas 12% da população tem acesso a um ensino básico considerado bom neste país. Sabe de onde vêm esses 12%? Das escolas privadas.

Vejo discursos muito antagônicos atualmente - ao mesmo tempo que se prega a preservação ambiental por meio de ações coletivas, por exemplo, constrói-se uma educação rankeada em que vencem os melhores e em que há diferenças gigantescas separando o público e o privado em se falando de escolas. Ora, a preservação de florestas e rios é parte de um processo educacional que deveria privilegiar desde cedo a consciência de coletividade, de ações conjuntas e realmente grupais. Assim como a preservação dos bens culturais e do patrimônio público. A correta aplicação dos nossos impostos. A realização ética de toda e qualquer tarefa que alguém se proponha a realizar, seja na igreja, no escritório, em casa, na rua, na escola, no hospital. Então, estamos dando voltas em círculos?...

Sou bastante otimista em relação à Educação no Brasil, especialmente na escola pública. Entretanto é realmente necessária e urgente a tal revolução do título da matéria da IstoÉ n. 2079, de 16 de setembro de 2009. Basta entender o verdadeiro conceito de revolução, que não é simplesmente maquiar o modelo educacional existente. É, em sentido político, uma transformação radical. Em sentido figurado, é uma efervescência qualquer. De qual dos dois sentidos está falando a reportagem?

Professores que lutam e acreditam na Educação e na mudança social apoiada pela Educação buscam revoluções cotidianas quando provocam ebulições nos corações juvenis e agem em prol de uma espécie de transformação fundamentada especialmente em necessidades reais de crianças e jovens estudantes já calejados do modelo há tanto vigente. Professores igualmente calejados lutam, com as "armas" de que dispõem, para que as pessoas cresçam enquanto pessoas e enquanto cidadãs para que possam revolucionar(se) com as "armas" de que dispõem.

A minha dúvida é: será que o governo está preocupado em fornecer "armas" iguais, adequadas e suficientes para todos os jovens que conseguem chegar ao Ensino Médio? Quantos conseguem? Quantos permanecem? Segundo dados de Época, n. 587, de 15 de agosto de 2009, dos 10 milhões de jovens brasileiros entre 15 e 17 anos, apenas 5 milhões estão cursando o Ensino Médio, ou seja, a metade. E o MEC vai fornecer "armas" para o professor realizar a revolução?

A grande revolução mesmo seria a audiência dos realmente interessados em todo o processo educacional, aqueles que estão envolvidos diretamente no processo de ensino e aprendizagem - alunos, professores e gestores. E como não acredito na construção de uma sociedade baseada no individualismo - veja o que acontece hoje nos EUA -, espero um dia podermos ter nossas vozes sendo ouvidas pelos órgãos competentes.

Caroline Rodrigues
13 set 2009


Foto: internet

domingo, 30 de agosto de 2009

Informe-se para votar: Marina Silva em entrevista a Veja de 30.08.09

Entrevista

Marina imaculada

Politicamente correta, com biografia sem nódoas e uma doçura sem
par, a senadora verde diz por que deixou o PT e o que defenderá na
corrida à Presidência da República em 2010

Sandra Brasil

Foto: Lailson Santos (Veja)


A senadora Marina Silva, do Acre, causou um abalo amazônico ao Partido dos Trabalhadores. Depois de trinta anos de militância aguerrida, abandonou a legenda e marchou para o Partido Verde, seduzida por um convite para ser a candidata da agremiação à Presidência da República em 2010. Para o PT, o prejuízo foi duplo: não só perdeu um de seus poucos integrantes imaculadamente éticos, como ganhou uma adversária eleitoral de peso. Os petistas temem, e com razão, que a candidatura de Marina tire muitos votos da sua candidata ao Planalto, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Na semana passada, Marina, de 51 anos, casada, quatro filhos, explicou a VEJA as razões que a levaram a deixar o PT – e opinou sobre temas como aborto, legalização da maconha e criacionismo.

A senhora será candidata a presidente pelo Partido Verde?
Ainda não é hora de assumir candidatura. Há uma grande possibilidade de que isso aconteça, mas só anunciarei minha decisão em 2010.

Se sua candidatura sair, como parece provável, que perfil de eleitor a senhora pretende buscar?
Os jovens. Eles estão começando a reencontrar as utopias. Estão vendo que é possível se mobilizar a favor do Brasil, da sustentabilidade e do planeta. Minha geração ajudou a redemocratizar o país porque tínhamos mantenedores de utopia. Gente como Chico Mendes, Florestan Fernandes, Paulo Freire, Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Henrique Cardoso, que sustentava nossos sonhos e servia de referência. Agora, aos 51 anos, quero fazer o que eles fizeram por mim. Quero ser mantenedora de utopias e mobilizar as pessoas.

Sua saída abalou o PT. Além da possibilidade de disputar o Planalto, o que mais a moveu?
O PT teve uma visão progressista nos seus primeiros anos de vida, mas não fez a transição para os temas do século XXI. Isso me incomodava. O desafio dos nossos dias é dar resposta às crises ambiental e econômica, integrando duas questões fundamentais: estimular a criação de empregos e fomentar o desenvolvimento sem destruir o planeta. O crescimento econômico não pode acarretar mais efeitos negativos que positivos. Infelizmente, o PT não percebe isso. Cansei de tentar convencer o partido de que a questão do desenvolvimento sustentável é estratégica – como a sociedade, aliás, já sabe. Hoje, as pessoas podem eleger muito mais do que o presidente, o senador e o deputado. Elas podem optar por comprar madeira certificada ou carne e cereais produzidos em áreas que respeitam as reservas legais. A sociedade passou a fazer escolhas no seu dia a dia também baseada em valores éticos.

A crise moral que se abateu sobre o PT durante o governo Lula pesou na decisão?
Os erros cometidos pelo PT foram graves, mas estão sendo corrigidos e investigados. Quando da criação do PT, eu idealizava uma agremiação perfeita. Hoje, sei que isso não existe. Minha decisão não foi motivada pelos tropeços morais do partido, mesmo porque eles foram cometidos por uma minoria. Saí do PT, repito, por falta de atenção ao tema da sustentabilidade.

Ou seja, apesar de mudar de sigla, a senhora não rompeu com o petismo?
De jeito nenhum. Tenho um sentimento que mistura gratidão e perda em relação ao PT. Sair do partido foi, para mim, um processo muito doloroso. Perdi quase 3 quilos. Foi difícil explicar até para meus filhos. No álbum de fotografias, cada um deles está sempre com uma estrelinha do partido. É como se eu tivesse dividido uma casa por muito tempo com um grupo de pessoas que me deram muitas alegrias e alguns constrangimentos. Mudei de casa, mas continuo na mesma rua, na mesma vizinhança.

No período em que comandou o Ministério do Meio Ambiente, a senhora acumulou desavenças com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Como será enfrentá-la em sua eventual campanha à Presidência?
Não vou me colocar numa posição de vítima em relação à ministra Dilma. Quando eu era ministra e tínhamos divergências, era o presidente Lula quem arbitrava a solução. Não é por ter divergências com Dilma que vou transformá-la em vilã. Acredito que o Brasil pode fazer obras de infraestrutura com base no critério de sustentabilidade. Temos visões diferentes, mas não vou fazer o discurso fácil da demonização de quem quer que seja.

Um de seus maiores embates com a ministra Dilma foi causado pelas pressões da Casa Civil para licenciar as hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, no Rio Madeira. A senhora é contra a construção de usinas?
No Brasil, quando a gente levanta algum "porém", já dizem que somos contra. Nunca me opus a nenhuma hidrelétrica. O que aconteceu naquele caso foi que eu disse que, antes de construir uma usina enorme no meio do rio, era preciso resolver o problema do mercúrio, de sedimentos, dos bagres, das populações locais e da malária. E eu tinha razão. Como as pessoas traduziram a minha posição? Dizendo que eu era contra hidrelétricas. Isso é falso.

Se a senhora for eleita presidente, proibirá o cultivo de transgênicos?
Eis outra falácia: dizer que sou contra os transgênicos. Nunca fui. Sou a favor, isso sim, de um regime de coexistência, em que seria possível ter transgênicos e não transgênicos. Mas agora esse debate está prejudicado, porque a legislação aprovada é tão permissiva que não será mais possível o modelo de coexistência. Já há uma contaminação irreversível das lavouras de milho, algodão e soja.

O que a senhora mudaria no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)?
Eu não teria essa visão de só acelerar o crescimento. Buscaria o desenvolvimento com sustentabilidade, para que isso pudesse ser traduzido em qualidade de vida para as pessoas. Obviamente, é necessário que o país tenha infraestrutura adequada. Mas é preciso evitar os riscos e problemas que os empreendimentos podem trazer, sobretudo na questão ambiental.

Na economia, faria mudanças?
Não vou me colocar no lugar dos economistas. Prefiro ficar no lugar de política. Em linhas gerais, acho que o estado não deve se colocar como uma força que suplanta a capacidade criativa do mercado. Nem o estado deve ser onipresente, nem o mercado deve ser deificado. Também gosto da ideia do Banco Central com autonomia, como está, mas acho que estão certos os que defendem juros mais baixos.

No seu novo partido, o PV, há uma corrente que defende a descriminalização da maconha. Como a senhora se posiciona a respeito desse assunto?
Não sou favorável. Existem muitos argumentos em favor da descriminalização. Eles são defendidos por pessoas sérias e devem ser respeitados. Mas questões como essa não podem ser decididas pelo Executivo, e sim pelo Legislativo, que representa a sociedade. A minha posição não será um problema, porque o PV pretende aprovar na próxima convenção uma cláusula de consciência, para que haja divergências de opinião dentro do partido.

Os Estados Unidos elegeram o primeiro presidente negro de sua história, Barack Obama. Ele é fonte de inspiração?
Eu também sou negra, mas seria muito pretensioso da minha parte me colocar como similar ao Obama. Ele é uma inspiração para todas as pessoas que ousam sonhar. A questão racial teve um peso importante na eleição americana. Mas os Estados Unidos têm uma realidade diferente da do Brasil. Eu nunca fui vítima de preconceito racial aqui.

A senhora poderia se apresentar como uma candidata negra na campanha presidencial?
Não. É legítimo que as pessoas decidam votar em alguém por se identificar com alguma de suas características, como o fato de ser mulher, negra e de origem humilde. Mas seria oportunismo explorar isso numa campanha. O Brasil tem uma vasta diversidade étnica e deve conviver com as suas diferentes realidades. Caetano Veloso (cantor baiano) já disse que "Narciso acha feio o que não é espelho". Nós temos de aprender a nos relacionar com as diferenças, e não estimular a divisão. A história engraçada é que, durante as prévias do Partido Democrata americano, quando a Hillary Clinton disputava a vaga com Obama, um amigo meu brincou comigo dizendo que os Estados Unidos tinham de escolher entre uma mulher e um negro, e, se eu fosse candidata no Brasil, não teríamos esse problema, porque sou mulher e negra.

A senhora é a favor da política de cotas raciais para o acesso às universidades?
Há quem ache que as cotas levam à segregação, mas eu sou a favor de que se mantenha essa política por um período determinado. Acho que há, sim, um resgate a ser feito de negros e índios, uma espécie de discriminação positiva.

Mas a senhora entrou numa universidade pública sem precisar de cotas, embora seja negra, de origem humilde e alfabetizada pelo Mobral.
Sou uma exceção. Tenho sete irmãos que não chegaram lá.

Aos 16 anos, a senhora deixou o seringal e foi para a cidade, a fim de se tornar freira. Como uma católica tão fervorosa trocou a Igreja pela Assembleia de Deus?
Fui católica praticante por 37 anos, um aspecto fundamental para a construção do meu senso de ética. Meu ingresso na Assembleia de Deus foi fruto de uma experiência de fé, que não se deu pela força ou pela violência, mas pelo toque do Espírito. Para quem não tem fé, não há como compreender. Esse meu processo interior aconteceu em 1997, quando já fazia um ano e oito meses que eu não me levantava da cama, com diagnóstico de contaminação por metais pesados. Hoje, estou bem.

A senhora é mesmo partidária do criacionismo, a visão religiosa segundo a qual Deus criou o mundo tal como ele é hoje, em oposição ao evolucionismo?
Eu creio que Deus criou todas as coisas como elas são, mas isso não significa que descreia da ciência. Não é necessário contrapor a ciência à religião. Há médicos, pesquisadores e cientistas que, apesar de todo o conhecimento científico, creem em Deus.

O criacionismo deveria ser ensinado nas escolas?
Uma vez, fiz uma palestra em uma escola adventista e me perguntaram sobre essa questão. Respondi que, desde que ensinem também o evolucionismo, não vejo problema, porque os jovens têm a oportunidade de fazer suas escolhas. Ou seja, não me oponho. Mas jamais defendi a ideia de que o criacionismo seja matéria obrigatória nas escolas, nem pretendo defender isso. Sou professora e uma pessoa que tem fé. Como 90% dos brasileiros, acredito que Deus criou o mundo. Só isso.

A senhora é contra todo tipo de aborto, mesmo os previstos em lei, como em casos de estupro?
Não julgo quem o faz. Quando uma mulher recorre ao aborto, está em um momento de dor, sofrimento e desamparo. Mas eu, pessoalmente, não defendo o aborto, defendo a vida. É uma questão de fé. Tenho a clareza, porém, de que o estado deve cumprir as leis que existem. Acho apenas que qualquer mudança nessa legislação, por envolver questões éticas e morais, deveria ser objeto de um plebiscito.

Seu histórico médico inclui doenças muito sérias, como cinco malárias, três hepatites e uma leishmaniose. A senhora acredita que tem condições físicas de enfrentar uma campanha presidencial?
Ainda não sou candidata, mas, se for, encontrarei forças no mesmo lugar onde busquei nas quatro vezes em que cheguei a ser desenganada pelos médicos: na fé e na ciência.

Senadores querem dedicação exclusiva para professor da educação básica


Mais uma informação importante sobre a Educação Básica. Leiam texto a respeito em www.stellabortoni.com.br.

Aguardo comentários e posicionamentos nos blogs.

Abraços

Céu de Brasília


Passei aqui para fazer apologia ao céu mais lindo do Brasil.

Declamado por muitos poetas:


Beleza bonita de ver nada existe como o azul
Sem manchas do céu do Planalto Central
E o horizonte imenso aberto sugerindo mil direções
E eu nem quero saber se foi bebedeira louca ou lucidez.
Flávio Venturini

Ah, Céu de Brasília, francamente, você, quando capricha, meu coração fica sem argumento. Te adoro, você me acolhe e me protege como nenhum céu o faz, nem o céu capixaba maravilhoso de minha terra. É lindo ele, mas é de outra qualidade, outra especialidade. Sempre foi assim, já reparou? Desde a primeira vez, cheguei plebéia e saí daqui rainha. Você é uma gracinha, foi logo me premiando de estréia! Me tratas com muitas honras pra quem é só dois anos mais velha.
Elisa Lucinda

Esse imenso desmedido amor
Vai além de seja o que for
Passa mais além do céu de Brasília
Traço do arquiteto
Gosto tanto dela assim
Djavan


Um abraço gigantesco para todas/os as/os colegas de Gestar II.

A foto do post foi pega na Internet e é do Memorial JK, um dos monumentos mais visitados da capital.

Bom domingo!

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Projetos (in)úteis?

Foto: internet



Quando o muro separa uma ponte une
Se a vingança encara o remorso pune
Você vem me agarra, alguém vem me solta
Você vai na marra, ela um dia volta
E se a força é tua ela um dia é nossa
Olha o muro, olha a ponte, olhe o dia de ontem chegando
Que medo você tem de nós, olha aí
Você corta um verso, eu escrevo outro
Você me prende vivo, eu escapo morto
De repente olha eu de novo
Perturbando a paz, exigindo troco
Vamos por aí eu e meu cachorro
Olha um verso, olha o outro
Olha o velho, olha o moço chegando
Que medo você tem de nós, olha aí
O muro caiu, olha a ponte
Da liberdade guardiã
O braço do Cristo, horizonte
Abraça o dia de amanhã, olha aí


Pesadelo
by Marcelo Tapajós e Paulo César Pinheiro



A notícia de que há um Projeto de Lei tramitando no Congresso - já foi aprovado pelo Senado - para que seja obrigatória a execução do Hino Nacional com hasteamento da Bandeira uma vez por semana em todas as escolas do país me fez relembrar meus tempos de menina. Na época, década de 70/80, era ditadura militar e tínhamos aulas de Organização Social e Política Brasileira, Educação Moral e Cívica e, uma vez por semana, entoávamos o Hino no pátio durante o hasteamento de nossa Bandeira. Eu nutro um amor especial pela nossa Bandeira. Ela sempre me fascinou. Certamente um sentimento implantado por aquela época tão terrível de nossa história, em que éramos obrigados a cumprir protocolos sem o mínimo direito de abrir a boca para questionar. Aprendíamos todos os símbolos da pátria - boa herança da ditadura? Alguns artistas, por exemplo, compunham músicas de protesto disfarçadas, porque, se pegos, eram presos - como Cálice, de Chico Buarque. Adotavam pseudônimos para compor, como Julinho da Adelaide, também de Chico Buarque. Muitos sumiram "misteriosamente" à época, como Honestino Guimarães, estudante da UnB. Naquela época, ninguém nos contou do lema positivista inscrito na faixa central da Bandeira - Ordem e Progresso. Era o que vivíamos. Era o que esperavam de nós. Sem maiores (ou menores) discussões. Muitas pessoas gostam de afirmar que brasileiro não é patriota. Eu questiono essa suposta falta de patriotismo atribuída aos brasileiros só porque, diferentemente dos norte-americanos, cada um de nós não tem hasteada a Bandeira em nossas portas ou janelas?! É claro que, depois de 20 anos de tortura e submissão, as pessoas nutriram sentimentos de "liberdade" extrema e procuraram se distanciar ao máximo de tudo que relembrava aqueles tempos - acabaram, nas escolas, as disciplinas de OSPB, EMC e a obrigação de entoar o Hino e hastear a Bandeira; os protestos por liberdade de expressão já não faziam mais tanto sentido. Agora, vejo a possibilidade de retorno da cerimônia cívica nas escolas com um pouco de receio, mas também com a esperança de que isso reforce a democracia e a necessidade de se buscar direitos, de se tornar um cidadão mais crítico e consciente, especialmente ao escolher os representantes, pois estamos em outros tempos e as lutas agora são/devem ser outras. Mas os fantasmas de outrora ainda rondam o ideário brasileiro e as ações de muitos que se dizem representantes do povo também continuam como daquela época. Se o Projeto vingar, caberá ao professor exercer o papel de conscientizador, de democratizador do acesso a toda e qualquer informação sobre nossa história - passada e recente. O conhecimento aumenta as chances de desenvolvimento de uma nação. O conhecimento possibilita o surgimento da criticidade. Prefiro ver com bons olhos essa ideia. Prefiro acreditar que isso será bom para a comunidade escolar.

Notícia sobre o Projeto de Lei aqui.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Comentário - entrevista de Marta Scherre



Muito legal a entrevista. Sucinta e direta ao ponto. Concordo com a Marta. Tudo é preconceito linguístico, estigma promovido inclusive pela própria escola. Toda mudança em uma língua leva uns 100 anos para acontecer e acontece, porém o domínio pela língua fonte de todo o preconceito linguístico sempre vai existir e vai sempre carterizar a fala do dominador. É assim que funciona uma sociedade capitalista. Nossa Pátria não é Nossa Língua, como grita Caetano Veloso.


Muito obrigado estimada Carol pela dica de leitura!

terça-feira, 9 de junho de 2009


Querida Carol como vai? Eu sou Rosângela Carvalho gestar Floriano Piauí. Assece o meu blog na conta rosangelagestar@gmail.com

segunda-feira, 8 de junho de 2009

SUPERHIPERMEGAULTRA FELIZ!!!


Figura: internet


Colegas do Piauí,
estou superhipermegaultra feliz com todos os blogs que têm sido criados desde nosso encontro na semana passada!!!
Parabéns a todas!! Os endereços dos blogs já se encontram no canto esquerdo deste blog. Visitem e comentem os textos dos colegas.

Abraços,
Carol

domingo, 7 de junho de 2009

Informações importantes

Pessoal, seguem informações importantes sobre a bolsa.
Abraços,
Carol
+++++++++++++++++++++
Colegas,
Abaixo, repasso um sumário das primeiras informações que me chegaram ontem sobre as bolsas do Gestar II. Devemos repassar essas Informações aos formadores locais (estaduais e municipais) imediatamente:
1. As bolsas do Gestar II serão de R$400,00 (10 parcelas).
2. Todos os formadores locais em atividade estão aptos a recebê-la.
3. Os coordenadores só poderão receber bolsa se estiverem atuando como formadores.
4. Se algum formador local está devendo a ficha, deve enviar os dados por e-mail (
gestar@unb.br ) e
a ficha posteriormente pelo correio; os dados por e-mail, para garantir a bolsa de junho (que sairá no
inicio de julho), deverão chegar até 25 de junho. Pelo correio, pode chegar depois dessa data.
5. Os formadores-UnB deverão informar para os coordenadores-UnB quem está em dia com as atividades para receber a bolsa mês a mês.
6. Serão 10 parcelas a começar em julho; portanto; continuarão recebendo depois de dezembro.
7. Pode receber a primeira parcela quem participou da Formação Inicial e ainda está no
programa, ou seja, tem relatado, ao formador-UnB, suas atividades com os cursistas.
8. O trabalho de autorização será mensal. O MEC sugere que exijamos um relatório mensal dos formadores locais, que podem se referir a meses já vencidos. Cabe ao formador-UnB receber esses relatórios e encaminhar, ao coordenador-UnB, todo dia 20, a lista de quem vai receber a bolsa naquele mês. Logo, no dia 20 de junho aguardo a primeira lista.
Abraços,
Dioney

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Dicas para as oficinas e para a vida


Para acessar o vídeo Lições de vida, entre aqui. O vídeo A persuasão está aqui.
****

Aqui também há muito material e de domínio público.
***

E se você gosta de livros e músicas, mas o acesso na sua cidade é difícil/caro, entre aqui.
***

Apresentações em powerpoint? Há várias de todos os assuntos imagináveis aqui.
***

Bom trabalho!

Figura: internet

PS: Combata o plágio! SEMPRE cite a fonte de figuras, fotos, artigos, trabalhos, livros.
E use filtro solar.

A TURMA DO PI - GESTAR FASE II - JUN/2009

Clique na foto para ampliar

Colagem feita em 04.06.2009
By Caroline

segunda-feira, 1 de junho de 2009

ATIVIDADES DO PORTIFÓLIO

GESTAR II- JUNHO/2009 - PIAUÍ

FORMADORA: CAROLINE R. CARDOSO

1. BIOGRAFIA (A SUA PRÓPRIA, EM TERCEIRA PESSOA)

2. MEMORIAL (CONFORME MODELO FORNECIDO NA FORMAÇÃO, EM PRIMEIRA PESSOA)

3. APRECIAÇÃO CRÍTICA DE UM LIVRO LITERÁRIO POR MÊS

4. APRECIAÇÃO CRÍTICA DE UM TEXTO TEÓRICO POR MÊS (DENTRE OS QUE ESTÃO SUGERIDOS NOS TPs)

5. REGISTRO REFLEXIVO DAS 40 HORAS DA FORMAÇÃO INICIAL

6. REGISTROS DA FORMAÇÃO COM OS CURSISTAS: FOTOS, TEXTOS, DINÂMICAS, PLANEJAMENTOS (APLICAÇÃO DOS CADERNOS DE TP JUNTO AOS CURSISTAS – AS PRIMEIRAS 40h – TP3, TP4, TP5)

7. REFLEXÃO SOBRE O LOCUS DO FORMADOR E DO CURSISTA (ESCOLA, CIDADE, ESTADO)

8. REFLEXÕES A RESPEITO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA, BASEADAS NOS TEXTOS LIDOS E NAS DISCUSSÕES FEITAS NA FORMAÇÃO

9. ESBOÇO DOS PROJETOS DOS CURSISTAS (RESUMO DAS PARTES: Tema, Problema, Fundamentação teórica, Objetivos, Metodologia, Cronograma, Equipe de trabalho, Avaliação)

10. AUTOAVALIAÇÃO

11. ALGUMA OUTRA PRODUÇÃO A CRITÉRIO DO FORMADOR (FOTOS, VÍDEOS, DOCUMENTOS HISTÓRICOS, ENTRE OUTROS)



CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO


PROFISSIONALISMO/DOMÍNIO DO ASSUNTO

ORGANIZAÇÃO

AUTONOMIA

ORIGINALIDADE

MATURIDADE

ENVOLVIMENTO

CUMPRIMENTO DE PRAZOS



ATENÇÃO!
Até o dia 20 de cada mês, você deve postar o relatório mensal das oficinas. Para começar, o blog deve conter a biografia, o memorial, a apreciação crítica de um livro já lido (literária e teórica), o relatório das oficinas realizadas até o mês de junho e algum registro das oficinas iniciais (fotos, vídeos, texto de cursista, depoimento de alunos, etc.).

domingo, 31 de maio de 2009

Servidor público ou professor?


Esse texto é resultado de algumas reflexões a respeito da ação pedagógica, especialmente na escola pública. São reflexões inciais, por isso não vou entrar em maiores detalhes filosóficos e jurídicos. É apenas um olhar nascido de uma conversa sobre o trabalho.
***
Nós, servidores públicos, tivemos um conjunto de atribuições e responsabilidades em Regime Júrido Único instaurados em 1990 com a Lei 8112. Mas, ao que parece, não nos foi enfatizado o verdadeiro sentido do termo "servidor público". Alessandro Eloy Braga,
colega educador, já fez reflexão brilhante a esse respeito. Ele mostra que o sentido real do substantivo "servidor" foi totalmente esquecido por aqueles milhares, ou até milhões, de brasileiros que querem ingressar no serviço público, em qualquer esfera. E eu acrescento que o adjetivo "público" nunca foi assimilado em nossa cultura em seu sentido denotativo. Não foi incorporado em nossa sociedade o sentimento de coletividade, de comunhão, de conjunto. Ao contrário, disseminou-se a noção de que público é o que pertence ao governo e o governo... É algo distante, bem distante de nós. Passamos, então, a lidar com a questão do público como o que é privativo ao outro e "eu não tenho nada a ver com isso".
***
Além dessa torpe visão, tornou-se um vício ser servidor público para manter-se no emprego custe o que custar. É a tal estabilidade,
outra palavra muito mal interpretada por nós, que nos oferece esse privilégio. Aquilo que foi conquistado a duras penas e legalizado na 8112/90 como um benefício de categoria passou a ser um malefício público. É. A estabilidade garante ao servidor o direito de, após o estágio probatório de 3 anos, permanecer no cargo. A não ser por crimes previstos na Lei. O que vemos é que o servidor tem de fazer bastante esforço se quiser ser exonerado ou demitido. Mas bastante esforço mesmo!
***
E o que isso tudo tem a ver com a ação pedagógica do professor da escola pública? TUDO! Nós, professores da escola pública, confundimos estabilidade com acomodação. Nos esquecemos de que não devemos apenas ensinar conhecimentos advindos do saber científico, ética, moral, respeito, comprometimento consigo e com o outro, mas também, e em primeiro lugar, devemos dar exemplo de tudo o que ensinamos.
Nos esquecemos o verdadeiro sentido de estarmos desenvolvendo um trabalho totalmente diferenciado do de um técnico da Receita Federal ou de um agente do Detran, por exemplo. Estes também devem ter consciência do que significa servir o público. Mas a natureza da atividade que cada um desses profissionais desenvolve é infinitamente diferente da desenvolvida pelo professor.
***
O fato de todos nós servidores públicos nos acomodarmos em virtude de nossa estabilidade traz muitos malefícios a nós mesmos porque temos péssimos serviços públicos: hospitais públicos, INSS, Polícias, Receita Federal, Tribunais, Detran, Procon, escolas públicas, etc. Ao ponto de termos de pagar duplamente pelos nosso direitos básicos, previstos constitucionalmente - saúde, educação, segurança, habitação - se quisermos ter o mínimo de dignidade. E quem não pode pagar?
***
Este texto serve a um questionamento surgido ontem quando de uma discussão sobre trabalho e transformação social. Por meio do trabalho, transformamos/dominamos a natureza e criamos cultura. Essa também é uma das razões por sermos diferentes dos animais - eles sobrevivem e isso não transforma o meio. Então, o trabalho é uma forma de dialogarmos com nossa existência, nosso mundo, nossa natureza humana e de modificar tudo ao nosso redor. Consumismo a parte, trabalhamos não apenas para sobreviver, mas para transformar e construir o mundo. Especialmente o professor, consciente ou não do poder que tem, querendo ou não, trabalha para transformar e construir o mundo ao seu redor. Resta saber se os vícios de um cultura depreciadora do real sentido de ser servidor público já impregnaram a maioria de nós. Resta saber se temos agido muito mais como reprodutores da cultura nepotista ou como contribuidores para uma sociedade mais consciente e crítica. Resta saber se temos realmente servido o público como nos é obrigatório a partir do momento em que fomos selecionados em um concurso público ou se estamos bastante interessados em receber um salário no final do mês sem importar o que fizemos com nossa obrigação já que existe uma estabilidade que me protege de um exercício irregular da profissão. Resta saber quem realmente somos. Resta saber quem queremos ser. E resta saber quem não devemos ser.


Caroline Cardoso
29.05.2009
Texto originalmente publicado aqui

terça-feira, 26 de maio de 2009

VESTIBULAR PARA OS PARLAMENTARES

Há oito dias aguardo para escrever este post. Na verdade, quero compartilhar com o leitor a queda de mais um dos meus (pre)conceitos. Explico: sempre achei que muitos, para não dizer a maioria, dos programas de humor da TV brasileira são de uma má qualidade e de um mau gosto impressionantes. [Não estou defendendo os estrangeiros. Os programas de humor ingleses ou americanos são péssimos! Depois explico isso.] Também acredito que fazer comédia, e de qualidade, não é para qualquer um. Mas há um quê de apelação em muitos desses programas brasileiros, seja para o sexo, seja para a ridicularização das minorias, seja para o desprezo ao lado cítrico-sarcástico-inteligente que deve ser a essência do humor. E, obviamente, o humor deve ser contextualizado. As piadas inglesas do Mister Bean são um horror para mim. Não as entendo [nem quero entender], por isso são tão sem graça. Mas segunda-feira passada assisti, pela primeira vez, ao CQC. E, para minha surpresa, eles fazem bom humor. Gosto muito do Tas, que comanda o programa. Ele é um rapaz cult. E isso deu um ar mais jornalístico, digamos assim, ao programa. Ao menos no quadro que vi e que reproduzo ali embaixo, eles fizeram algo bastante interessante e inédito nos programas de humor: entrevistaram os políticos, no Congresso, a respeito de conhecimentos elementares para qualquer cidadão eleito para representar o povo. E, para surpresa geral, se nossos parlamentares fossem fazer um vestibular para concorrer ao cargo por meio dos próprios conhecimentos, SURPRESA! Muitos REPROVARIAM. Fiquei impressionada com as atitudes, com a falta de vergonha dos senhores deputados e senadores pela própria ignorância. Não sei o que é pior, os desvios serem cometidos por alguém tão ignorante ou... O mais legal do programa é que o Gentili, entrevistador CQC, não precisou rechaçar os nobres colegas enternados para nos fazer morrer de chorar com tanta incongruência. Os próprios parlamentares são a piada.

Analogamente, fiquei pensando na minha profissão. Tanto que nós professores brigamos e lutamos para que nossos alunos saiam cidadãos conscientes e críticos, para que as comunidades mais carentes tenham acesso a uma Educação integral e de qualidade e para que nosso país seja mais bem representado. Como as pessoas ainda conseguem se tornar massa de manobra de gente que mal sabe o valor do salário mais pago no país? Como as pessoas ainda conseguem votar nesses homens de terno vendo tanta baboseira saindo da boca deles? Como nós ainda conseguimos nos sentir REPRESENTADOS por esse bando de ignorantes? Eu só tenho um conselho, que se fosse bom, seria vendido, não dado: ESTUDEM, NOBRES PARLAMENTARES. ESTUDEM! Eu estudo e não voto em ninguém há 6 anos. E, pelo jeito, vou continuar sem votar.



Caroline Cardoso
25.05.2009
Texto originalmente publicado
aqui


terça-feira, 21 de abril de 2009

Notas de uma aprendiz em construção

Foto: internet

Sou o intervalo entre o que desejo ser
e os outros me fizeram,
ou metade desse intervalo, porque também há vida...

by Álvaro de Campos

***
Os limites da minha linguagem denotam os limites do meu mundo.

by Wittgenstein

***
É preciso ser diferente para ver diferente.

by Rubem Alves


***
Em minhas mais novas reminiscências, recuperei meu amor pelo estudo e pelos livros. Se existem fadas madrinhas? Existem, sim! A minha foi responsável direta por eu gostar muito de ler. Ela era professora e dona de uma escolinha, a D. Lourdes. Me recordo vagamente dos corredores da escola dela, de brincadeiras de leituras e do primeiro livro que ela me deu de presente - a bíblia da criança. Ela plantou, regou, e minha mãe, que fique claro, sempre cultivou em mim o hábito de estudar. Não posso recuperar em minha memória algum momento em que eu não estivesse curiosa a respeito de alguma coisa. Não consigo me lembrar de minha infância sem as brincadeiras de escolinha. Não sou capaz de ver meu passado sem os livros. Desde que "me entendo por gente", eu estudo. Aprendi a ler cedo. Fui alfabetizada no SESC em meados da década de 70. Toda a minha vida escolar básica em colégio de freira foi com professores rígidos, métodos tradicionais e Educação Moral e Cívica. Eu cantava o hino do Brasil enquanto hasteavam a Bandeira, rezava antes de começar a aula e esperava ansiosamente pelo recreio. Como eu corria no recreio! Mas também adorava ficar conversando com as colegas, fazendo o dever, copiando, copiando, copiando. Como eu copiava! E treinava para manter minha letra redondinha - porque era chique! Um dos meus hobbies era acertar tudo no ditado. Mas também contava os dias para as festas juninas e as longas filas indianas. Os ensaios eram momentos de interação e também de treino da organização. Sou muito organizada, devido à educação da minha mãe e também a esses ensaios na escola. Engraçado... Lembro que eu lia muito, mas não me lembro das visitas à biblioteca da escola, nem dos meus professores do primário. Sempre achei muito engraçado eu não ter lembrança alguma deles! O primeiro livro que me marcou muito na pré-adolescência foi A droga da obediência. Acho que é porque eu já sabia dos futuros surtos de rebeldia. Fui preparada. Dos professores do segundo grau? Lembro de vários. Eles marcaram muito mais minha história. De fato, ainda sei de conceitos da física e da biologia, de letras de músicas em inglês, de todos os paradigmas verbais regulares, de fundamentos do basquete, de geometria. Lembro do carinho deles conosco, da proximidade. Parecia, em alguns momentos, colegas. É. O diretor era um horror! Grosso, estúpido, mal educado, castrador, todo o oposto do que todas as teorias pedagógicas pregam. E o gosto pela leitura foi crescendo. As amizades foram se firmando. Eu jogava basquete no time da escola. Tinha algumas paqueras. No entanto, nunca deixei o gosto pelos estudos até mesmo porque eu não podia perder a bolsa de estudos que minha mãe havia conseguido com muito esforço. No final do ensino médio eu não tinha a mínima ideia do que faria realmente. Fiz vestibular para ciência da computação, jornalismo e letras. Deu certo o caminho do magistério. Descobri a linguística na faculdade de letras, mas parece que eu já sabia que ia enveredar por esses caminhos. Quando eu tinha uns 7 anos, viajei para o interior da Bahia, onde mora meu avô paterno. Naquela época, era zona rural. Aliás, meu trânsito pela zona rural sempre foi intenso. Mas, na Bahia, percebi as variações da língua. Meus primos falavam diferente de mim. E eu pedia que repetissem mil vezes o abecedário. Do jeito deles era muito mais melódico. Na época, 25 anos atrás, eu não imaginava o que era ser cientista da língua. Hoje sei da importância dos meus antecedentes rurais para a minha formação - honestidade, humildade, respeito, integridade e fé. E também sei o significado da nossa base rural para a configuração atual do português brasileiro. Especialmente, espero que as pessoas entendam isso, de uma vez por todas, como traços culturais valiosos e os respeitem como devem ser respeitados. Sei que, na maioria das vezes, as pessoas me olham como se eu fosse uma pessoa excêntrica. E devo ser. Porque eu afirmo, digo e redigo: Eu gosto de estudar. E descobrir. Por isso continuei meu caminho nos estudos. E, enquanto vida eu tiver, quero poder aprender. Essa vida é muito curta e cheia de novidades. Há muito o que investigar. Há muito o que olhar. Gosto das provocações presentes nos livros. Tenho um prazer quase libidinoso quando consigo descobrir, aprender, ver coisa nova. A verdadeira matriz dessa máquina humana que sou é meu cérebro. E o cérebro, líder intelectual humano, supremo órgão da máquina humana, não pode parar. A ele, pai de todas as cognições, de todos os sistemas, de todas as atividades racionais e emocionais, comandante e, ao mesmo tempo, ponte do aprendizado, dou glórias. E graças. Se posso pensar, por que ficar inerte? Se posso agir, por que não (re)agir?

Caroline Cardoso
15.04.2009
Texto originalmente publicado aqui