segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Projetos (in)úteis?

Foto: internet



Quando o muro separa uma ponte une
Se a vingança encara o remorso pune
Você vem me agarra, alguém vem me solta
Você vai na marra, ela um dia volta
E se a força é tua ela um dia é nossa
Olha o muro, olha a ponte, olhe o dia de ontem chegando
Que medo você tem de nós, olha aí
Você corta um verso, eu escrevo outro
Você me prende vivo, eu escapo morto
De repente olha eu de novo
Perturbando a paz, exigindo troco
Vamos por aí eu e meu cachorro
Olha um verso, olha o outro
Olha o velho, olha o moço chegando
Que medo você tem de nós, olha aí
O muro caiu, olha a ponte
Da liberdade guardiã
O braço do Cristo, horizonte
Abraça o dia de amanhã, olha aí


Pesadelo
by Marcelo Tapajós e Paulo César Pinheiro



A notícia de que há um Projeto de Lei tramitando no Congresso - já foi aprovado pelo Senado - para que seja obrigatória a execução do Hino Nacional com hasteamento da Bandeira uma vez por semana em todas as escolas do país me fez relembrar meus tempos de menina. Na época, década de 70/80, era ditadura militar e tínhamos aulas de Organização Social e Política Brasileira, Educação Moral e Cívica e, uma vez por semana, entoávamos o Hino no pátio durante o hasteamento de nossa Bandeira. Eu nutro um amor especial pela nossa Bandeira. Ela sempre me fascinou. Certamente um sentimento implantado por aquela época tão terrível de nossa história, em que éramos obrigados a cumprir protocolos sem o mínimo direito de abrir a boca para questionar. Aprendíamos todos os símbolos da pátria - boa herança da ditadura? Alguns artistas, por exemplo, compunham músicas de protesto disfarçadas, porque, se pegos, eram presos - como Cálice, de Chico Buarque. Adotavam pseudônimos para compor, como Julinho da Adelaide, também de Chico Buarque. Muitos sumiram "misteriosamente" à época, como Honestino Guimarães, estudante da UnB. Naquela época, ninguém nos contou do lema positivista inscrito na faixa central da Bandeira - Ordem e Progresso. Era o que vivíamos. Era o que esperavam de nós. Sem maiores (ou menores) discussões. Muitas pessoas gostam de afirmar que brasileiro não é patriota. Eu questiono essa suposta falta de patriotismo atribuída aos brasileiros só porque, diferentemente dos norte-americanos, cada um de nós não tem hasteada a Bandeira em nossas portas ou janelas?! É claro que, depois de 20 anos de tortura e submissão, as pessoas nutriram sentimentos de "liberdade" extrema e procuraram se distanciar ao máximo de tudo que relembrava aqueles tempos - acabaram, nas escolas, as disciplinas de OSPB, EMC e a obrigação de entoar o Hino e hastear a Bandeira; os protestos por liberdade de expressão já não faziam mais tanto sentido. Agora, vejo a possibilidade de retorno da cerimônia cívica nas escolas com um pouco de receio, mas também com a esperança de que isso reforce a democracia e a necessidade de se buscar direitos, de se tornar um cidadão mais crítico e consciente, especialmente ao escolher os representantes, pois estamos em outros tempos e as lutas agora são/devem ser outras. Mas os fantasmas de outrora ainda rondam o ideário brasileiro e as ações de muitos que se dizem representantes do povo também continuam como daquela época. Se o Projeto vingar, caberá ao professor exercer o papel de conscientizador, de democratizador do acesso a toda e qualquer informação sobre nossa história - passada e recente. O conhecimento aumenta as chances de desenvolvimento de uma nação. O conhecimento possibilita o surgimento da criticidade. Prefiro ver com bons olhos essa ideia. Prefiro acreditar que isso será bom para a comunidade escolar.

Notícia sobre o Projeto de Lei aqui.

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