domingo, 16 de novembro de 2008

Narradores de Javé

Ficha técnica
Direção:
Eliane Caffé

Roteiro: Eliane Caffé, Luiz Alberto de Abreu
Duração:
100 min
Elenco: José Dumont, Nelson Xavier, Matheus Nachtergaele, Nelson Dantas, Gero Camilo


"O povo aumenta mas não inventa"
Rodado entre junho e setembro de 2001 em Gameleira da Lapa, cidade do interior da Bahia, “Narradores de Javé” conta a história de um povoado que, ao ver a iminência de ter seu vilarejo inundado pelas águas de uma represa, vê como único modo de impedir o acontecimento na transformação do local em um patrimônio da humanidade. Para isso os moradores decidem passar para o papel todas as lendas sobre a origem de Javé, e assim chamam o escrivão local Antônio Biá para escrever um livro sobre o vilarejo.
Acontece que Biá tinha sido banido de Javé pela população por ter difamado praticamente toda esta através de cartas que ajudaram a salvar seu emprego nos Correios locais. Mas no desespero a população acaba dando esta oportunidade do escrivão se redimir. A partir daí, Biá passa a ir de casa em casa na região para passar para o papel as lendas guardadas nas cabeças dos moradores de Javé. O único problema é que cada morador conta uma história diferente, e sempre defendendo os interesses de seus antepassados.
O filme é brilhante, ganhou os prêmios principais nos Festivais do Rio e de Recife, onde em ambos o trabalho, não menos magnífico, de José Dumont foi premiado. Dumont é a alma do longa, onde pode treinar toda sua capacidade de improvisação. Praticamente todas as marcantes falas de Biá, como “piaba de silicone”, “tapioca de exu”, “manicure de lacraia”, “pokemon de Jesus”, “omelete de cupim”, “desinteria de tinta”, “um dilúvio bovino”, “clonado de miolo de pão”, entre outras, foram criadas pelo próprio ator.
Este é o segundo trabalho de Zé Dumont como a diretoraEliane Caffé, o primeiro foi em “Kenoma” (1998). O longa conta ainda com as presenças de Matheus Nachtergaele (“Cidade de Deus”), Nelson Dantas ("O que é isso companheiro?"), Gero Camilo (“Carandiru”) e Nelson Xavier (“Benjamin”), que só ajudam à abrilhantar mais “Narradores de Javé”.
Ao mostrar o confronto entre o progresso e as tradições de um lugarejo, o filme ainda se preocupa em citar o problema das terras em nosso país, onde os primeiros habitantes demarcavam, por si mesmos, a extensão de suas propriedades. Resumindo, o filme é imperdível, e boa parte disso é por causa de José Dumont que, bairrismos à parte, merecia um Oscar por sua interpretação.


By Lucas Salgado


Nenhum comentário: